China by Lomenso

Narrativas sobre a experiencia cotidiana de uma familia que saiu do Rio de Janeiro para morar em Shanghai e que agora mora em Dalian

10.24.2006

Chang bai shan 长 百 山 – Tian chi 天 池


A primeira semana de outubro foi inteira de feriado em todo o pais, por conta da comemoracao da “libertacao” da China, cuja data oficalmente estabelecida corresponde ao dia 1º de outubro de 1949. Bandeiras vermelhas foram espalhadas por todos os postes e espacos publicos da cidade, do dia para a noite...isso ja faz quase um mes, de fato, mas para o que quero relatar o espaco de 1 mes certamente nao faz diferenca alguma...
Fomos (a familia) convidados, por um chines da empresa chinesa (sem nomes...) para a qual esta sendo construida a obra que nos trouxe ao pais, a fazer uma viagem com um grupo de chineses e suas respectivas familias...eram em torno de 20 e poucos chineses.
Desde o inicio foram todos imensamente simpaticos e calorosos com a nossa presenca, incluindo as tres criancas presentes (entre 8 e 12 anos de idade), muito curiosas sobre nossa participacao nessa viagem.
Saimos de Dalian 大连(grande cidade portuaria localizada no Norte da China, no Mar Amarelo, muito perto da Coreia) com destino a Tong Hua 通 华, o que representa uma jornada de 14 horas de trem, desfrutadas nos beliches triplos, ja que a primeira classe dos trens locais em qualquer um dos tres feriados anuais chineses sao quase uma ficcao (sobretudo para os estrangeiros, ja que os chineses tem prioridade na compra de qualquer passagem de trem).
Assim que chegamos em Tong Hua, por volta de 6 da manha, foi nitido perceber que os estrangeiros nao sao frequentemente recebidos pela redondezas. Nao apenas pelos olhares dos locais impressionados com a nossa presenca, como tambem pela ausencia de qualquer placa ou inscricao que nao fossem escritos em caracteres (ingles, claro, nem pensar...).
Da estacao de trem, pegamos um onibus da companhia de turismo para nos dirigirmos ao nosso destino. Depois de uma meia hora no onibus, paramos num “hotel” para tomar cafe da manha, que, por ser tipicamente chines, nao inclui qualquer pao, queijo (eh geral os chineses detestam queijo), frios, suco ou qualquer outro alimento encontrado em qualquer cafe da manha ocidental. Pois eh, o cafe da manha chines tipico eh uma grande refeicao, com varios pratos quentes, arroz, sopa, legumes e verduras, baozi (uma massa branca em formato arredondado, que em geral nao tem recheio)...ovos, tofu, alimentos nao identificados e, claro, uma travessa de dentes de alho descascados. Passado o indigesto cafe da manha, seguimos adiante na nossa jornada.
No caminho, a vista era de local montanhoso, com morros cobertos de arvores que expressavam, de forma como nunca havia visto antes, as cores do outono: vermelho, laranja, amarelo, verde e marrom em todos os tons e nuances possiveis. Pouquissimas casa havia nesse caminho...
Por volta de 10:30 da manha, mais uma parada num “hotel” de beira de estrada. Disseram que era o almoco...incredula, fui perguntar a guia, com meu pobre chines, se era mesmo o almoco...era! A mesa em poucos minutos ficou repleta de pratos, como acontece nas refeicoes tipicamente chinesas em restaurantes...variados tipos de carne, legumes e outras iguarias...entre elas a mais chamou a atencao eram as pernas de sapo, cujo formato e aparencia nao deixavam mentir!
De volta a estrada, rumo ao esperado vulcao, a paisagem dessa vez deu margem a um ou dois pequenos vilarejos e muitas plantacoes de milho (nitidamente eh do que vive o povo local), muitos ja colhidos e que estavam espalhados nos quintais das casas e, em muitos casos, nos telhados. As casas nessas pequenos vilarejos impressionava pela pobreza e pela falta de aparente infra-estrutura para suportar o frio do inverno, que nessa regiao chega a temperatura de aproximadamente 25-20 graus negativos.
Depois de algumas horas no onibus, chegamos a entrada do local, onde compramos nossos ingressos para entrar no que parece ser uma especie de parque nacional, bastante organizado, com onibus e guias proprios incluidos no ingresso. A primeira parada foi para ver um canion formado nos arredores do vulcao, cuja ultima atividade data de 300 anos atras. A paisagem eh muito interessante, porque a formacao rochosa eh nitidamente recente (com angulos agudos e pontas protuberantes, que nao sofreram o desgaste suficiente para se tornarem arredondadas) e magmatica (pela cor preta)...um rio corria no fundo do canion...bela paisagem com direito a esquilos na trilha...totalmente diferente de tudo que ja vi no Brasil...
Mais uma meia hora de onibus, a paisagem cada vez mais escassa de vegetacao e o solo cada vez mais escuro e aparentemente nada fertil, finalmente chegamos ao ponto onde o onibus nao podia mais subir a montanha. De la ate a cratera, o caminho eh a pe, a ser percorrido na escadaria de pedra perfeitamente construida para os turistas (assim como em muitas outras famosas montanhas chinesas). Em passos apressados, leva em torno de meia hora para chegar ao topo, localizado a 3.700 metros de altitude.
Chegar na cratera impressiona pela imensidao, pelo silencio total, pela aparente ausencia de vida animal, pela paisagem impar, pelo frio, apesar do lindo dia de ceu azul! Alias, fomos muito sortudos, porque, segundo o jornal local (cuja reportagem limos em caracteres!!!!!), durante 300 dias por ano chove ou neve na cratera (alem do fato de que durante o inverno o parque fecha, porque a temperatura chega a 40 graus negativos), o que impede muita gente de ver o lindo e enorme lago que ha la. O lago tem 10 quilometros de extensao e 312 metros de profundidade.
1/3 do lago pertence a China e os outros 2/3 a Coreia do Norte! Assim que se chega ao topo, uma das primeiras coisas que se ve eh a pedra que divide os dois paises! Diziam os chineses (e do mesmo modo imaginavam os gringos que por aqui residem) que eh proibido andar do lado norte coreano, sob pena de ser imediatamente preso. Nao havia sequer um soldado desarmado no lado norte coreano, o que significa que andentramos em menos 200 metros do territorio norte coreano sem sermos importunados e, muito menos, precisarmos de passaporte! Mal sabiamos que naquele momento estava sendo feito o tal teste nuclear que ninguem sabe bem onde aconteceu...a foto foi tirada em territorio norte coreano!

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