China by Lomenso

Narrativas sobre a experiencia cotidiana de uma familia que saiu do Rio de Janeiro para morar em Shanghai e que agora mora em Dalian

5.09.2007

北京Beijing – finalmente, a capital!

Como talvez ja tenha mencionado, o feriado do dia do trabalho se estende por uma semana, a contar do dia primeiro de maio. Nesse periodo quem pode viaja, na maioria dos casos dentro da China mesmo, sendo que a unanimidade eh que a capital eh o lugar mais procurado nos grandes feriados nacionais.
De fato, nao conheci nada parecido em termos de grandeza...acredito que eh mesmo na capital que se sente e se dimensiona a grandeza da populacao, do pais, das contrucoes, da capacidade produtiva e, claro, o peso do Estado e o quanto ele se impoe de forma impressionante por toda a cidade.
A cidade, apesar de nao ser a mais populosa da China (Shanghai tem o posto), com cerca de 17 milhoes de habitantes, tem dimensao impressionante e divisao espacial bem delimitada: ha a area das embaixadas, a area financeira, a area universitaria, o centro antigo, que tambem coincide com a area dos imponentes predios oficiais, onde a abundancia de bandeiras vermelhas e de guardas com movimentos sincronizados sao, no minimo, elementos de imposicao visual.
E se a construcao civil tem atividade intensa em toda a China, o auge nao poderia deixar de ser a capital, sobretudo porque o governo tem investido pesado em infra-estrutura para as Olimpiadas de 2008. As obras, todas em boa fase de andamento, incluem desde restauracao dos principais pontos turisticos da cidade, construcao e ampliacao de pelo menos quatro linhas de metro, construcao da vila olimpica (ha muitos condominios que ja estao prontos) e varios estadios, construcao de uma serie de pontes, viadutos e novas avenidas para melhorar o fluxo do transito, renovacao de toda frota de taxi da cidade, entre outros mil detalhes.
O vermelho impera, pois alem das abundantes bandeiras, a cidade proibida com seus infinitos muros, os templos budistas e tantas outras construcoes antigas sao predominantemente vermelhos....na foto, a praca da paz celestial em feriado nacional, onde a praca eh preenchida por bandeiras. Ha tanto para se ver...desde os classicos como a Cidade Proibida, Grande Muralha, Palacio de Verao, Templo do Ceu, Opera de Beijing e outros, ha o muito interessante parque onde ha construcoes e casas tipicas de cada uma das 56 minorias etnicas que atulamente compoem a China, com imensas diferencas, uma grande ponte descrita por Marco Polo (onde pelo menos no seuclo XIII foi uma entrada da cidade), as ruelas (conhecidas como hutong – 胡同) e casebres tipicos, com seus muros cinzas de tijolo aparente e telhados vermelhos, os espetinhos de insetos frescos (escorpiao no palito, mas ianda em movimento), as compras, uma infinidade de restaurantes do mundo inteiro (um da Malasia era especialmente charmoso e delicioso!), parques, lagos enormes repletos de restaurantes e bares ao redor...ufa! Bem, so indo la pra ver e mesmo assim haja folego e tempo!
Para alem da evidente importancia local e da riqueza historica, os locais se orgulham especialmente de dois aspectos que singularizam a capital em relacao a qualquer outra cidade chinesa: o famoso pato laqueado (烤鸭), que eh realmente delicioso e imperdivel (mesmo pra mim que nao como carne ha mais de um ano), e a melhor pronuncia de mandarim de todo o pais. Isso eu confirmo e tiro meu chapeu!!

4.20.2007

As minucias

Desculpem, mas exagerei na mudanca relampago...a rua ainda nao ficou pronta, por uma das razoes cuja logica nao consigo vislumbrar, o que infelizmente acontece o tempo todo com o estudo de chines.
Por que sera que os sujeitos responsaveis pela construcao dessa rua tiveram tanta pressa em destruir o que havia anteriormente e colocar asfalto se ja se passaram mais de tres dias e nao aparece ninguem para acabar os ultimos detalhes e colocar a rua em uso?

Como a reciproca eh quase sempre verdadeira, vou falar sobre as mil e uma coisas que os chineses nao entendem quando eu me atrevo a falar chines...
Antes de mais nada, jamais pensei que um ano de estudo diario de uma lingua, no pais originario da mesma, pudesse nao ser suficiente para entender e ser entendido com fluencia. Mas tambem confesso que jamais pude imaginar morar na China e estudar chines.
Outro dia estava num restaurante – cujo sistema eh interessante, pois ha um retangulo de certa profundidade no meio da mesa, onde o garcom coloca carvao ja em brasa, cobre com uma grelha, onde os clientes grelham a comida, que vem toda crua e, em muitos casos, viva (!) – e, depois de ja estar com a mesa repleta de comida para ser grelhada, resolvi pedir shoyo para a garconete, exatamente da mesma forma como sempre pedi em todos os outros restaurantes chineses. Usei a forma que, aparentemente, eh a unica para falar shoyo, cuja pronuncia eh “jiang you” (酱油). Mas como ja era de se esperar, a garconete ficou olhando pra mim com um certo pavor de quem nao faz a minima ideia o que acabei de dizer e desandou a falar, o que nao entendi absolutamente nada. Apenas continuei repetindo shoyo em chines e tentando especificar que se tratava de um molho preto para acompanhar a comida. Resultado: cerca de dez minutos depois, a garconete chega com uma deliciosa porcao de bicho da seda (na fase larva, quando ainda estao no casulo...muito parecida ocm o que se ve na foto). Custei a acreditar que a garconete realmente estava convencida que era a porcao de larvas a que me referi, sobretudo diante de diante de dois fatos obvios ao mais desavisado acefalo: somos nitidamente ocidentais (nao conheco um sequer que entre num restaurante chines e peca uma porcao inteira so de larvas) e a nossa mesa ja estava cheia de comida.
Ontem descobri a unica razao que posa ter induzido a garconete ao erro: a pronuncia desse delicioso prato de larvas eh algo como “jie yong”, o que supostamente seria proximo de “jiang you” (shoyo). Nao tenho a menor pretensao de acreditar que a minha pronuncia em chines seja super clara para os ouvidos chineses, mas ainda acho inevitavel pensar que em muitas situacoes o uso da deducao obvia seria muito util em varias situacoes e, ainda, pouparia a redundancia que tanto me cansa no chines.

4.18.2007

A velocidade das obras

Algo que ja havia mencionado anteriormente, mas que continua me impressionando eh a velocidade com que se destroi e constroi por aqui. Bastam poucos dias para levar abaixo todo um quarteirao cheio de construcoes e alguns outros poucos para transforma-lo em algo totalmente diferente. Tanto aqui quanto em Shanghai, se a alguem passar mais de um dia sem sair de casa, eh muito provavel que ao sair encontre um outro estabelecimento no exato lugar onde ontem funcionava uma lavanderia. A velocidade com que isso acontece eh inacreditavel!
Um exemplo que hoje realmente me chocou foi a velocidade com que a margem de um canal, que avistamos da janela dos fundos do nosso apartamento, virou uma avenida pavimentada, com calcada pronta e canteiro com arvores onde ontem so havia um gramado. Na parte de baixo da foto eh possivel ver uma faixa, na margem do canal, meio avermelhada, onde era a passagem de pedestres, e, ao longo, o gramado.
Hoje de manha, por volta de 7:30, havia intensa movimentacao de pessoas, carros e caminhoes...dois deles, inclusive, vieram lotados de trabalhadores chineses que, em menos de 8 (oito) horas, transformaram metade do gramado e da passagem de pedestres em uma avenida com cerca de 300 metros de extensao. No final da tarde chegaram os caminhoes com pixe e asfalto, enquanto os demais trabalhadores cuidavam de outros detalhes de acabamento da calcada e plantavam arvores no canteiro.
Amanha na hora do almoco provavelmente estara tudo pronto...faco questao de tirar uma foto e colocar aqui amanha para mostrar a mudanca relampago.

4.12.2007

Lushun - a cidade proibida de Dalian

Localizada a mais ou menos 30 quilometros da cidade de Dalian, Lushun eh considerada uma cidade proibida em funcao de seu porto, situado numa baia estrategica, que abarca um enorme aparato militar chines. Eh supostamente o lugar ideal para manter defesa naval forte o suficiente para conter eventual invasao armada atraves do Golfo de Bohai. Alem disso, se nao eh o mais, eh um dos portos mais proximos de Beijing. Ate um passado recente, foi um local de intenso conflito entre Russia, Japao, Coreias e China.
Uma outra razao para a intensa militarizacao da area eh o fato de Lushun localizar-se em uma area cujo porto nao congela, sendo que todos os demais portos cima congelam no inverno. De qualquer modo, os territorios da Russia e da Coreia do Norte ocupam a linha costeira da Provincia de Jilin, o que impede a China de utilizar qualquer outro porto ao norte de Lushun.
O que se verifica eh que a localizacao privilegiada de Lushun ja atraiu a atencao de todos os paises ao redor, sobretudo como um ponto de partida para penetrar no territorio continental chines. As guerras mais antigas no local remetem as guerras entre China e Coreia, mas na historia moderna figurou como o principal objetivo na invasao japonesa da China continental, na epoca do primario porto naval da Dinastia Qing (1894), envolvendo o massacre de milhares de chineses e ainda hoje alimenta uma certa rivalidade entre essas nacoes.
Os russos tambem tiveram seu espaco na regiao, atraves de concessoes chinesas, de modo que fizeram no local a ultima parada da linha de trem da Manchuria, que cobre todo o percurso atraves da Siberia ate Moscou.
Depois disso, os japoneses conquistaram novamente o controle de Lushun e de Dalian, mantendo sua ocupacao por mais de quarenta anos e usando o local como base para outras invasoes ao territorio chines.
Apenas apos a Revolucao voltou a ser territorio dominado pelo governo chines, mas ainda assim guarda como presente um monumento doado pela antiga Uniao Sovietica (vide foto), como aparente simbolo de celebracao do regime comunista.
Provavelmente muito mais do que a mais famosa cidade proibida da China (localizada em Beijing e hoje local de intensa visitacao turistica), Lushun ainda mantem-se fiel a classificacao de cidade proibida, de tal modo que estrangeiros de qualquer origem nao sao bem-vindos.
De um terminal rodoviario de Dalian, pegamos (ao todo tres estrangeiros) um onibus para Lushun. No caminho, ja era possivel ver enormes condominios tipicamente militares...repletos de casas identicas. Nao tinhamos muita nocao de onde parar, de modo que o motorista nos deixou no meio do que parecia ser o centro comercial da cidade. Comecamos a andar em direcao ao mar, havia algumas placas indicando atracoes supostamente turisticas. O primeiro local que nos pareceu interessante era na beira do mar, um porto, onde estavam estacionados varios navios de guerra com bandeira chinesa. Havia uma bilheteria, onde entreguei o dinheiro e pedi tres entradas. Um homem dentro da bilheteria disse que nao poderiamos entrar, pelo fato de sermos estrangeiros. Continuamos a nossa andanca e resolvemos ir a um outro local, onde havia teleferico e vista panoramica da cidade, em cima de um morro voltado para o mar. Chegando la, a mesma noticia: proibida a entrada de estrangeiros. Os chineses que trabalhavam la disseram que memso que nos permitissem ir ate o topo, chegando la encontrariamos militares cuja unica funcao eh manter estrangeiros longe e, eventualmente, prende-los.
Pegamos um taxi disposto a nos ajudar a descobrir que lugares nao tem acesso vedado a gringos...seguimos a dica das placas locais ate o que seria um museu de cobras. Chegamos la e dessa vez o que encontramos foi um lugar enorme totalmente fechado e sem ninguem por perto...vimos uma placa onde dizia que so abriria novamente no verao...
A conclusao eh que constatamos a existencia de uma area intensamente militarizada ao longo de toda a costa, que ainda figura como uma importante area de protecao chinesa, o que justifica a proibicao de estrangeiros. Ao menos voltamos pra casa de taxi e fizemos a alegria do motorista...

3.18.2007

Os nomes

De acordo com a cultura brasileira majoritariamente em voga, seus pais lhe dao um nome quando voce nasce ou quando precisa ser registrado, certo?! E por mais que voce deteste, as chances de que seja oficialmente mudado sao muitissimo remotas. Pode ser, mas independente da sua nacionalidade, se pretende passar mais de um ano na China, tenha a certeza de que voce precisar usar um novo nome (chines, eh claro!), que inclusive constara dos formularios e informacoes oficiais sobre a sua pessoa.
Essa necessidade advem de um fato relativamente simples: os chineses basicamente so leem caracteres, de modo que toda e qualquer palavra estrangeira, incluindo todos os nomes proprios, precisa ser “encaixada” nas opcoes de caracteres existentes para que possam ser lidos e pronunciados. Em geral, esse “encaixe” eh feito atraves de uma suposta aproximacao fonetica, o que nao significa que aos ouvidos ocidentais serao reconheciveis. Foi assim que Einstein virou “Aiyinsitan” (爱因斯坦), assim como Churchill eh pronunciado como “Qiuji’er” (丘吉尔), Harvard “Hafo” (哈佛), California “Jiazhou” (加州), Brazil “Baxi” (巴西) e assim por diante.
Nos inventamos nossos nomes chineses por pura impossiblidade dos chineses pronunicarem nossos “nomes originais”...Rafael, por exemplo, era pronunciado como “walfle”!
Mas a reciproca eh verdadeira e para a maioria dos ocidentais nao eh nem um pouco simples falar, repetir e muito menos se lembrar dos “nomes originais” chineses, japoneses ou coreanos. Imbuidos de um espirito de compreensao ou coisa do genero, ha tambem um senso comum de que chineses, coreanos e japoneses morando fora de seus respectivos paises ou em permanente contato com ocidentais criem nomes alternativos, em geral originarios do ingles (e todos se referem como “english name”), o que tambem da margem a toda sorte de escolhas aparentemente bizarras. “Apple” eh particularmente popular como escolha de nome entre as chinesas...mas tambem nao eh nada dificil de encontrar “nomes” como “Seven”, “Eleven”, “Love”...
O engracado eh perceber que nesse universo tao diverso quanto a forma de lidar com nomes e seus significados, os nomes e sobrenomes chineses em geral sao compostos por caracteres cujo uso pratico eh diario em palavras totalmente objetivas e, por isso, sao cheios de significados que qualquer chines alfabetizado provavelmente entendera o significado. Meu nome chines, por exemplo, feifei (飞飞) designa o verbo voar e eh composto pelo mesmo caracter que, em combinacao com aquele que designa maquina, forma a palavra aviao (feiji – 飞机).
Nossos nomes ocidentais, pelo contrario, nao nos remetem a qualquer significado imediato...remotamente num livro pouco consultado sobre significados de nomes talvez se possa encontrar, mas nao eh algo nao necessariamente relevante na escolha de um nome. Por isso nos filmes ou mesmo desenhos animados chineses, quando os ocidentais resolvem, alem de traduzir (mesmo que apenas nas legendas) os dialogos, traduzir os nomes dos personagens, soa tao estranho que pessoas possam ter nomes como “Leao da montanha” ou “Sorte do primeiro”...
A questao que parece obvia eh que nao eh possivel fazer a simples transposicao de formas de pensar, na escolha ou traducao de nomes, por exemplo (para falar de algo pequeno), quando as culturas envolvidas sao tao diversas. A troca eh fundamental, mas mesmo quando dispostos a trocar, ainda assim os “homens” parecem nao abrir mao de tentar impor suas respectivas formas de pensar...e dai tantos mal entendidos ou situacoes embaracosas, como um ocidental chamar uma simpatica menina coreana de “Tomato” soar como brincadeira de mau gosto.

3.16.2007

De volta via Paris!


Depois das merecidas ferias de quase dois meses em terras tupiniquins (esse papo de que ferias tem que durar no maximo um mes eh pura exploracao...por isso entendi por bem aderir ao estilo da minha amiga chinesa – ressalte-se que ela mora e trabalha no Brasil –, que se auto-presenteia com tres meses de ferias anuais...mas, por favor, sem esquecer que de acordo com o senso comum a inveja eh um sentimento pequeno burgues mesquinho – oh, redundancia!), pegamos um aviao rumo a Shanghai (quase nao ha voos internacionais para Dalian, exceto no que se refere ao Japao e Coreia do Sul...rsrsrsrsrsrs) com conexao em Paris. Por conta do longo tempo de espera pelo voo seguinte, do trecho Paris – Shanghai, resolvemos aproveitar para passear pela ruas de Paris...mesmo com pouco tempo disponivel, foi possivel se perder pelas ruas do Marais, ouvir e aranhar um pouco do belo idioma, andar pelas ruas limpissimas deslumbrada com a arquitetura tao bem conservada, andar de metro e ver tanta gente lendo, ver pessoas vestidas com cores sobrias, se deliciar com as vitrines de comida mais atraentes que existem, ir as nuvens por sentir o sabor do que so as boas brasseries em Paris podem oferecer, reviver a sensacao de que a hora de ter que deixa-la nao coincide com a hora de querer ir embora e, por fim, mais uma vez ter a certeza de que o lugar comum segundo o qual parisiense eh antipatico eh pura intriga da oposicao! Dessa vez, incluisve, muito me surpreendeu a extrema simpatia dos pelo menos cinco franceses com as quais tivemos rapidos dialogos...e isso tudo foi testemunhado pelo nosso acompanhante, o duende do jardim da casa de Amelie Poulain!!!!! Au revoir!

1.15.2007

"Desejo de partir e a alegria de voltar"!!!!!

O ano de 2006, passado inteiro na China, sem um dia sequer fora desse pais, foi realmente inesquecivel...incluindo os melhores amigos gringos que ja tive na vida, a melhor vida de estudante e de gandaia, uma capacidade de falar ingles e chines que nunca tive antes, a chance de conhecer mil lugares inimaginaveis, de ter contato com pessoas de cultura absolutamente incomparavel e de sentir a maior saudade que jamais imaginei das pessoas queridas que deixei no Brasil. 13 meses sem Brasil nao eh nada facil...especialmente vivendo em um lugar tao diferente, que pode ser tantas vezes fascinante e outras tantas irritante. Ha muitas coisas boas a serem aproveitadas por aqui, sem duvida, mas depois de tanto tempo, so vendo chines (e com uma paciencia muito pequena para a forma como eles tratam uns aos outros e agem em lugares publicos...a impressao eh de uma enorme falta de respeito uns com os outros o tempo todo), ouvindo (eles falam gritando, sobretudo no celular!) e sentindo o cheior de chines ( o que inclui o aroma alho em todos os momentos), preciso muuuuuuuuuito voltar para o Brasil, preciso de ferias de China para conseguir apreciar o que viver por aqui te oferece de bom!!!!! Daqui a poucas horas, estarei no taxi rumo ao aeroporto....longa viagem, com algumas escalas...mas nao vejo a hora!!!!! Isso significa que novos escritos so mesmo em marco....quem sabe sobre como eh visitar o Brasil depois da longa e ininterrupta temporada China!

1.05.2007

Essa foto foi tirada ha pouco mais de um mes atras em Shanghai, num shopping que fica no centro comercial mais movimentado da cidade. Estava passando por acaso e fiquei impressionada quando me deparei com uma verdadeira virtine de chineses (pelo menos umas vinte voltadas para o vidro, como manequins inanimados), todos sem movimento, muitos dormindo (mas com um livrinho no colo...) e todos espalhados pelo chao.
Alias, o conceito de que o chao, sobretudo da rua ou de lugares publicos, eh um lugar sujo nao parece ser muito popular entre os chineses, que tambem nao parecem nada preocupados com limpeza. Mas o fato eh que eh muito comum ve-los colocar comida no chao da rua, comer, colocar panelas, sentar, dormir (s0bretudo no verao), jogar, vender comida e o que mais parecer conveniente...
Enfim, na foto o meu favorito eh esse sujeito deitado, que parecia estar em sono profundo!

1.02.2007

Jiao zi – 饺子 – Dumpling

Essas sao apenas tres formas diferentes de denominar uma mesma comida tipica chinesa, que constitui-se basicamente numa massa branca (feita de farinha, agua e sal) fina enrolada como uma trouxinha e recheada de acordo com o gosto do chines. A mais comum creio que seja uma mistura de diferentes carnes com um ou mais tipos de vegetais. O tamanho tambem varia, mas em geral eles sao menores do que a palma da mao e podem ser colocados de uma so vez na boca se o patite for grande o suficiente. O formato eh variado e pode ser fervido na agua ou frito.
Em Xi’an (西安), la onde residem os famosos soldados de terracotta, orgulham-se de dizer que possuem a sapiencia da arte do jiao zi, repetindo que la se pode encontrar mais de mil tipos diferentes da tal iguaria e que nao ha um sequer igual ao outro. De fato, estivemos num restaurante naquela cidade, onde so nos foi servida a iguaria, mas em todos os tamanhos, formatos, cores e recheios diferentes...inesquecivel!
Eles podem ser encontrados em qualquer restaurante (ao menos nos locais que ja estive na China) em qualquer epoca do ano, mas eles tem um significado especial para os chineses na passagem do ano novo (nao o do calendario solar, mas o do calendario lunar, que eh mais importante para eles). A ideia basica eh que a familia se reuna para jantar no ultimo dia do ano e, pouco antes da meia noite, estejam focados na missao de “embrulhar” os jiao zi! Nesse momento, algumas maos transformam a massa disforme em pequenos circulos, outras transferem os circulos para o acesso das outras tantas inumeras maos que, enquanto conversam, preenchem os circulos de massa com seus recheios e embrulham seus anseios. As maos sao jovens, lisas, enrugadas, envelhecidas, masculinas, femininas, ageis e neofitas. Eh assim que o jiao zi marca o tradicional inicio de um novo ano nas familias chinesas...ele representa a passagem e o comeco.
E assim foi o nosso primeiro de janeiro, mais tradicionalmente chines impossivel...fomos amavelmente recebidos por tres geracoes de uma familia de chineses reunidos todos em torno da ciencia de embrulhar jiao zi, conversar, observar a habilidade das maos que tem intimidade de decadas na tal ciencia e, finalmente, come-los em abundancia e fartura, como preve o ano do porco, que para o calendario lunar so vira em 18 de fevereiro!
祝你们都新年快乐!!!!!!!

12.31.2006

Hospital e Escola

Claro que nunca tive qualquer ideia de como funcionam os hospitais por aqui, ate o dia que precisamos “visitar” um, por conta de um profundo corte que meu irmao ganhou no dedo durante seu violento nado no mar de Dalian. Isso ja faz alguns meses, ate porque hoje em dia a temperatura local em torno de zero, chegando a 10 graus negativos, nao permite grandes nados.
Mas o fato eh que um chines local muito solicito se ofereceu para levar-nos a um hospital proximo. A primeira impressao, causada pela construcao moderna, eh de que se trata de um museu (vide foto). Mas era mesmo o hospital, com interior tambem impecavel, escadas rolantes e de uma limpeza que jamais presenciei em qualquer outro local na China. O atendimento foi extramamente rapido e eficiente e pagamos um montante que consideramos muito barato por todo o servico prestado. Saimos de la com a melhor das impressoes do servico basico de otima qualidade que o governo supostamente oferece ao povo chines...por alguns instantes, acreditei que isso poderia compesar outras agruras impostas a esse povo tao pobre e tao expoliado.
Foi so alguns meses depois – por conta das aulas particulares semanais de chines com um rapaz local muito esforcado, solicito e humilde – fui surpreendida pela informacao de que nao existe qualquer assistencia de saude gratuita para os chineses, o que talvez explique a escassez de pacientes em todas as vezes que estivemos no hospital em questao. Perguntei a esse rapaz qual seria a opcao de um pobre chines que nao tem dinheiro para pagar pelo servico prestado pelo hospital – acrescente-se a isso o fato de que todos os chineses com os quais conversamos consideram caro o montante cobrado pelo hospital para uma simples consulta (equivalente a algo em torno de R$ 2,00) e por essa razao preferem se auto medicarem em casa – e ele me disse que nenhuma. Se ha um acidente de transito e alguem gravemente ferido, nao ha ambulancia do corpo de bombeiros ou hospital publico para socorrer a vitima que nao tiver dinheiro para pagar. Talvez isso tambem explique o fato de ser tao raro ver uma anbulancia no transito.
Na ultima vez que estive neste hospital, vimos uma moca jovem que vestia um uniforme e tinha as maos cobertas de sangue, acompanhada de outra moca com o mesmo uniforme, que segurava as maos de sangue daquela que mal conseguia manter sua propria cabeca em pe. Nao era dificil perceber que ambas trabalhavam como cozinheiras em um restaurante e a primeira havia sido vitima de um acidente de trabalho. O que causou maior estranheza foi o tempo que a moca acidentada levou para ser atendida (mais que meia hora), num local onde nao havia fila ou muitos pacientes. So depois entendemos que a moca, cuja mao parecia estar em estado grave, so foi atendida apos a chegada de um terceiro, que pagou pela assistencia medica.
A mesma realidade se aplica a educacao: nenhuma crianca, adolescente ou adulto pode cursar qualquer colegio ou universidade sem o pagamento previo do ano letivo, do material e todos os demais custos decorrentes do estudo. O pagamento eh equivalente ao que se paga no Brasil para escola ou universidade particular, nao importa qual seja a condicao social do chines.

12.30.2006

Bang Chui Dao 棒棰岛 – A praia particular dos “predadores”


O conceito me pareceu muito estranho quando li em um guia turistico a informacao da existencia de uma praia, com parte de areia e tudo (aqui as praias sao naturalmente cobertas de pedra, em geral de circunferencia um pouco menor que a palma da mao), localizada dentro de um hotel, supostamente utilizado para encontro da “cupula do partido comunista”. Se isso eh verdade ou nao, nao consegui descobrir, mas pelo que se ve no local, eh fato que nao se trata de um mero condominio ou hotel de luxo...nas vezes que estive no local, as dependencias do hotel estavam todas praticamente vazias e nao havia qualquer indicacao de recepcao para receber algum desavisado que pretendesse se hospedar no local. Entrada de turistas e estranhos eh permitida mediante pagamento da taxa de admissao de 20 yuan (em torno de R$ 7,00), o que eh um montante relativamente alto para a maioria dos chineses.
Pela exuberancia, luxo, jardins imensos e impecaveis ao som de musica classica, campo de golf, as casas no estilo mais ocidental possivel, os inumeros guardas oficiais circulando e o cuidado geral do local, se nao eh destinado a reuniao “da cupula do partido”, ao menos serve aos seus afilhados ou, dito de outro modo, aos poucos privilegiados que ocupam a posicao de predadores na cadeia alimentar do capitalismo a moda chinesa.

12.26.2006

Seguranca e estilo de roubo de "agentes passivos"

Eh verdade que no quesito seguranca publica nao tenho qualquer reclamacao do que conheci da China neste tempo que por aqui estou...a qualquer hora do dia, em qualquer lugar, sente-se seguro, mesmo quando nao se fala uma palavra sequer em chines e a comunicacao com o taxista, por exemplo, se resume a mostrar a ele um pedaco de papel com caracteres chineses que indicam o endereco de destino. Eh realmente uma sensacao impar a de poder sair na rua, a qualquer hora e em qualquer lugar, sem qualquer receio de ser vitima de algum tipo de violencia ou agressao. Ha cenas inimaginaveis, como, por exemplo, ver um sujeito num beco escuro depois da meia noite usando tranquilamente seu laptop.
Apesar de tudo isso que acabei de relatar fazer parte da realidade chinesa atual, ha um fenomeno que parece crescente por aqui: os ladroezinhos sorrateiros que agem na surdina. A primeira vez que fui vitima de algo assim foi quando ainda estava em Shanghai, no mes de junho, seguindo minha entao rotina, fui a parte da garagem do predio destinada as bicicletas, mas a partir desse dia minha bicicleta nao estava mais la. Apesar das varias opcoes de bicicletas caras, o sujeito resolveu roubar a minha, propositalmente barata (ja haviam me alertado para o alto indice de furto de bicicletas em Shanghai) e tipicamente chinesa, porem recem-comprada. Depois realizei que o(a) ladraozinho(a) so conseguiria passar pelos segurancas sem levantar suspeitas se fosse uma bicicleta barata e chinesa como a minha.
Minha mae tambem teve experiencia nao muito feliz pouco depois de chegarmos aqui em Dalian. Ela tinha saido pra comprar um casaco e logo depois resolveu comer num Mc Donald’s proximo. Estava sozinha, comprou seu lanche e sentou-se numa mesa, acomodando sua bolsa e pacotes na cadeira ao lado. Quando olhou pro lado, sua bolsa ja nao estava mais onde deveria...
Minha experiencia mais recente foi extamente ontem, quando fui acompanhar meu irmao na compra de um casaco pesado para um inverno que nunca experienciamos. Estava na loja e por insitencia do dono, que eu ja conhecia, assim como sua familia, tirei minha bolsa e meu casaco para expermientar um a venda. Minha bolsa estava o tempo todo (2 a 3 minutos) a cerca de um metro de distancia de mim...embora a pequena loja estive um pouco confusa com a presenca de 3 ou 4 chinesas, o que ja eh suficiente para tumultuar qualquer ambiente. Gostei do casaco, mas avisei ao dono que nao tinha mais dinheiro para compra-lo. Para minha surpresa, ele disse que nao era preciso, que ele confia em mim, que eu podia levar o casaco e paga-lo na proxima vez que fosse aquele local...e com seu pobre, mas expressivo ingles declarou: “I’m capitalist!!”. Ele eh dono de pelo menos tres lojas nesse enorme complexo de lojas (uma shopping center tipicamente chines) e em cada uma delas colocou um membro da familia para tomar conta.
Saindo de la, ainda rindo com a declaracao do comerciante e surpresa em sair com o casaco na mao sem ter pago por ele, pegamos um taxi. Abri minha bolsa e me dei conta de que minha carteira nao estava mais la. Claro que entendi que na confusao de experimentar casacos, todas amontoadas no mesmo espaco (coisa que os chineses parecem adorar e eh realmente um costume ao qual tenho horror), uma das chinesas enfiou a mao na minha bolsa e levou minha carteira, certa de que encontraria muito dinheiro, ja que eles partem do principio de que estrangeiro na China tem dinheiro...espero que tenha contribuido ao menos para tirar essa falsa impressao, ja que havia montante equivalente a R$ 15,00 reais (50 yuan).
Os chineses locais dizem que isso acontece com chineses tambem...que nos centros de compras ha muitas pessoas que estao a postos apenas para surrupiar sua carteira na surdina. Os celulares por aqui tambem sao alvo dos ladroezinhos, que de acordo com o que dizem os proprios chineses, sempre atuam na surdina. A maioria deles atribui esses furtos a pessoas de uma das minorias etnicas considerada muito pobre, vindas de XinJiang, uma autonoma, vasta, inospita e aparentemente muita bela regiao localizada acima do Tibet, tambem considerada regiao autonoma.
A meu ver, essa forma de roubo (furto, na verdade) tem tudo a ver com uma sociedade que apesar de viver numa pobreza impressionante (os dados divulgados dizem que pelo menos 10% da populacao da China vive abaixo da linha de pobreza, ou seja, vivem com menos de 1 dolar por dia), num grau assustador de expropriacao e exploracao, prefere se manter distante de qualquer posicao politica, cegamente acreditar que a China eh o melhor lugar do mundo pra se viver (inclusive comer, o que eh uma infamia!) e passivamente aceitar a dura realidade que lhes eh imposta ha pelo menos meio seculo.

11.14.2006

Dalian – 大 连


Apesar do destino original de moradia na China ter sido Shanghai, os ventos oficiais (porque eh o governo, claro, decide onde se realiza tudo por aqui, incluindo a obra de uma FPSO, que nos trouxe a essas bandas) nos levaram ao norte do pais, mais especificamente a uma cidade atualmente chamada Dalian, na Provincia de Liaoning (cuja capital eh Shenyang), mais especificamente na Peninsula de Liaodong, no Mar Amarelo. Na verdade a cidade fica mais perto da Coreia do Norte do que das principais cidades chinesas, apesar de estar localizada quase na mesma latitude que Beijing.
A Provincia faz parte da regiao conhecida como Manchuria (que ainda incluia a regiao correspondente as atuais provincias de Jilin e Heilongjiang, alem de parte da Mongolia que pertence a China), atualmente eh mais conhecida como “Dongbei”, que significa nordeste. Por muito tempo essa regiao correspondeu a area de conflito entre Japao e Russia, que ja foi ocupada por ambos, ate pelo menos ate meados do seculo XX. A influencia de ambas as culturas na construcao e organizacao da cidade eh evidente (ha inclusive uma “rua japonesa” e uma “rua russa”), sem falar na relevante presenca de japoneses e russos (sobretudo vindos de Vladivostok, que fica a aproximadamente 1000 quilometros daqui).
A cidade eh considerada o maior porto do nordeste da China, alem de uma das cidades que mais atrai turistas, sobretudo em funcao das praias existentes na cidade e arredores. Ha relevante propaganda, provavelmente do governo local, que proclama a cidade como “a pedra preciosa” do nordeste chines, “cidade romantica” e outros slogans do genero. Mas, de fato, nao vejo nada de especial na cidade (rsrsrsrsrs).
A cidade eh, ainda, considerada a capital do futebol chines! Em mais um dos principais parques da cidade ha bolas de futebol imensas...ha tambem muitos campos de futebol nas escolas e eh comum ver criancas jogando na rua, nos jardins dos predios...
Por aqui tambem a construcao civil anda de vento em polpa, com inumeros predios recem-construidos, outros tantos em fase de contrucao, enquanto seus “assemelhados”, porem velhos e pobres, sao condenados pela idade e varridos pela modernizacao, que aqui nesse pais, tem hoje, mais fome e pressa que em qualquer outro...
A foto eh tem ao fundo praca bastante conhecida e valorizada, que fica na frente do mar, e eh uma das regioes mais valorizadas da cidade.

10.24.2006

Chang bai shan 长 百 山 – Tian chi 天 池


A primeira semana de outubro foi inteira de feriado em todo o pais, por conta da comemoracao da “libertacao” da China, cuja data oficalmente estabelecida corresponde ao dia 1º de outubro de 1949. Bandeiras vermelhas foram espalhadas por todos os postes e espacos publicos da cidade, do dia para a noite...isso ja faz quase um mes, de fato, mas para o que quero relatar o espaco de 1 mes certamente nao faz diferenca alguma...
Fomos (a familia) convidados, por um chines da empresa chinesa (sem nomes...) para a qual esta sendo construida a obra que nos trouxe ao pais, a fazer uma viagem com um grupo de chineses e suas respectivas familias...eram em torno de 20 e poucos chineses.
Desde o inicio foram todos imensamente simpaticos e calorosos com a nossa presenca, incluindo as tres criancas presentes (entre 8 e 12 anos de idade), muito curiosas sobre nossa participacao nessa viagem.
Saimos de Dalian 大连(grande cidade portuaria localizada no Norte da China, no Mar Amarelo, muito perto da Coreia) com destino a Tong Hua 通 华, o que representa uma jornada de 14 horas de trem, desfrutadas nos beliches triplos, ja que a primeira classe dos trens locais em qualquer um dos tres feriados anuais chineses sao quase uma ficcao (sobretudo para os estrangeiros, ja que os chineses tem prioridade na compra de qualquer passagem de trem).
Assim que chegamos em Tong Hua, por volta de 6 da manha, foi nitido perceber que os estrangeiros nao sao frequentemente recebidos pela redondezas. Nao apenas pelos olhares dos locais impressionados com a nossa presenca, como tambem pela ausencia de qualquer placa ou inscricao que nao fossem escritos em caracteres (ingles, claro, nem pensar...).
Da estacao de trem, pegamos um onibus da companhia de turismo para nos dirigirmos ao nosso destino. Depois de uma meia hora no onibus, paramos num “hotel” para tomar cafe da manha, que, por ser tipicamente chines, nao inclui qualquer pao, queijo (eh geral os chineses detestam queijo), frios, suco ou qualquer outro alimento encontrado em qualquer cafe da manha ocidental. Pois eh, o cafe da manha chines tipico eh uma grande refeicao, com varios pratos quentes, arroz, sopa, legumes e verduras, baozi (uma massa branca em formato arredondado, que em geral nao tem recheio)...ovos, tofu, alimentos nao identificados e, claro, uma travessa de dentes de alho descascados. Passado o indigesto cafe da manha, seguimos adiante na nossa jornada.
No caminho, a vista era de local montanhoso, com morros cobertos de arvores que expressavam, de forma como nunca havia visto antes, as cores do outono: vermelho, laranja, amarelo, verde e marrom em todos os tons e nuances possiveis. Pouquissimas casa havia nesse caminho...
Por volta de 10:30 da manha, mais uma parada num “hotel” de beira de estrada. Disseram que era o almoco...incredula, fui perguntar a guia, com meu pobre chines, se era mesmo o almoco...era! A mesa em poucos minutos ficou repleta de pratos, como acontece nas refeicoes tipicamente chinesas em restaurantes...variados tipos de carne, legumes e outras iguarias...entre elas a mais chamou a atencao eram as pernas de sapo, cujo formato e aparencia nao deixavam mentir!
De volta a estrada, rumo ao esperado vulcao, a paisagem dessa vez deu margem a um ou dois pequenos vilarejos e muitas plantacoes de milho (nitidamente eh do que vive o povo local), muitos ja colhidos e que estavam espalhados nos quintais das casas e, em muitos casos, nos telhados. As casas nessas pequenos vilarejos impressionava pela pobreza e pela falta de aparente infra-estrutura para suportar o frio do inverno, que nessa regiao chega a temperatura de aproximadamente 25-20 graus negativos.
Depois de algumas horas no onibus, chegamos a entrada do local, onde compramos nossos ingressos para entrar no que parece ser uma especie de parque nacional, bastante organizado, com onibus e guias proprios incluidos no ingresso. A primeira parada foi para ver um canion formado nos arredores do vulcao, cuja ultima atividade data de 300 anos atras. A paisagem eh muito interessante, porque a formacao rochosa eh nitidamente recente (com angulos agudos e pontas protuberantes, que nao sofreram o desgaste suficiente para se tornarem arredondadas) e magmatica (pela cor preta)...um rio corria no fundo do canion...bela paisagem com direito a esquilos na trilha...totalmente diferente de tudo que ja vi no Brasil...
Mais uma meia hora de onibus, a paisagem cada vez mais escassa de vegetacao e o solo cada vez mais escuro e aparentemente nada fertil, finalmente chegamos ao ponto onde o onibus nao podia mais subir a montanha. De la ate a cratera, o caminho eh a pe, a ser percorrido na escadaria de pedra perfeitamente construida para os turistas (assim como em muitas outras famosas montanhas chinesas). Em passos apressados, leva em torno de meia hora para chegar ao topo, localizado a 3.700 metros de altitude.
Chegar na cratera impressiona pela imensidao, pelo silencio total, pela aparente ausencia de vida animal, pela paisagem impar, pelo frio, apesar do lindo dia de ceu azul! Alias, fomos muito sortudos, porque, segundo o jornal local (cuja reportagem limos em caracteres!!!!!), durante 300 dias por ano chove ou neve na cratera (alem do fato de que durante o inverno o parque fecha, porque a temperatura chega a 40 graus negativos), o que impede muita gente de ver o lindo e enorme lago que ha la. O lago tem 10 quilometros de extensao e 312 metros de profundidade.
1/3 do lago pertence a China e os outros 2/3 a Coreia do Norte! Assim que se chega ao topo, uma das primeiras coisas que se ve eh a pedra que divide os dois paises! Diziam os chineses (e do mesmo modo imaginavam os gringos que por aqui residem) que eh proibido andar do lado norte coreano, sob pena de ser imediatamente preso. Nao havia sequer um soldado desarmado no lado norte coreano, o que significa que andentramos em menos 200 metros do territorio norte coreano sem sermos importunados e, muito menos, precisarmos de passaporte! Mal sabiamos que naquele momento estava sendo feito o tal teste nuclear que ninguem sabe bem onde aconteceu...a foto foi tirada em territorio norte coreano!

9.23.2006

As calcas das criancas pequenas

Algo que muito me impressionou quando cheguei a China, sobretudo porque era inverno com temperaturas sempre em torno de zero (em Shanghai as vezes abaixo, outras vezes acima), foram as calcas que grande parte das criancas chinesas pequenas usam. Na foto, ha duas criancas (irmaos – o que eh raro por aqui) vestidas exatamente com a mesma roupa...e as calcas vermelhas sao abertas embaixo. A abertura eh para facilitar o processo das necesidades fisiologicas na fase em que as criancas ainda nao sabem controlar a vontade ate chegar ao banheiro. Assim, com essa abertura, as criancas sao instruidas pelos pais a se abaixarem no meio da rua caso tenham vontade de evacuar...claro que a limpeza da regiao depois disso eh dispensada pelos pais...essa cena eh comum mesmo no meio de uma calcada ultra movimentada.
Mas no frio da muita pena das criancas, porque mesmo quando as temperaturas levam as pessoas a cobrirem os proprios rostos para se proteger do vento gelado, os pais parecem nao ter a minima compaixao pelas proprias criancas e eles ficam literalmente expostos ao frio. As vezes da pra ver que as regioes expostas ficam roxas, por causa do frio. Da muita pena e minha mae chega mesmo a morrer de raiva dos pais...a sugestao dela eh colocar a bunda dos pais de fora tambem para eles sentirem na pele a sensacao de terem as partes intimas expostas ao frio e a toda sorte de “ventos” e eventos!

9.01.2006

“Bota Abaixo”

Ha tanto o que dizer sobre Shanghai, seus habitantes e costumes...infelizmente palavras, fotos, filmes e impressoes nao traduzem a complexa realidade que por aqui se ve. Mas ha algo que ainda hoje caracteriza muito a cidade...as vielas, becos e pequenas construcoes, que pelo que se tem noticia datam do inicio do seculo XX. Sobretudo pelo elevado numero de pessoas que moram em cada uma das construcoes (familias inteiras moram em um comodo), lembram os corticos no Rio de Janeiro tambem muito comuns no inicio do seculo XX. As construcoes sao casa antigas padronizadas, a maioria com tijolos aparentes, com em media tres ou quatro andares. Ainda sao extremamente comuns em toda Shanghai, mas principalmente na area correspondente a antiga area de concessao francesa (atuais distritos de Luwan e Xuhui). Nao por acaso lembram muito o estilo europeu de habitacao.
Quando se caminha pelas ruas de Shanghai, se ve um sem numero de becos, atraves dos quais ha um inimaginavel numero de portas, casas, pessoas e pertences. A foto em destaque foi tirada em um deles e diz tambem muito sobre o estilo de vida dessas pessoas....as bicicletas, as roupas e comidas penduradas na rua, cadeiras do lado de fora das casas, onde, sobretudo os mais velhos, passam horas do dia e, no verao, tambem da noite, eventualmente dormindo...
Apesar de ainda muito comuns, eh tambem cada vez mais comum a imagem das ruinas dessas construcoes...e elas se alestram a uma velocidade impressionante. Essas ruinas, localizadas na area hoje das mais nobres e caras de Shanghai, dao lugar ao crescente numero de arranha-ceus de arquitetura futurista.
Para onde vao essas familias inteiras que ha tanto tempo se amontoavam nessas construcoes antigas?! Claro que o jornal local escrito em ingles (China Daily) sequer menciona qualquer coisa sobre o que acontece com a massa de pobres por aqui...o mesmo vale para a televisao em lingua inglesa.
Provavelmente sao enviados a conjuntos habitacionais muito distantes das areas nobres. Ha muitas construcoes novas desse tipo, que podem ser vistas do trem que vai de Shanghai a Suzhou...

8.02.2006

"O QUE SERA QUE SERA..."

Poderia ser a cena de um filme “relativizando” e mesmo “escrachando” o suposto “valor” das super marcas da tal alta-costura...dessas que levam a relacao produto/ valor/ preco a um grau de total abstracao. Cobram verdadeiras furtunas por pecas, muitas vezes, ordinarias, cujo valor relacionado as horas de trabalho e materia-prima necessarias para gerar aquele determinado produto esta muito distante e destacado do preco atribuido ao mesmo produto...
Fato eh que por aqui, onde grande parte das roupas que se vende em todo mundo sao produzidas, as roupas tem custo muito baixo, em enormes quantidades, variedades e qualidades, de modo que grande parte dos chines por aqui, desde aquele que entrega revistas, ao que dirige o onibus, ao que vende peixe nas ruas, ao que varre as ruas...usam roupas dessas tais “super marcas”.
Outro fato eh que o governo por aqui tenta cada vez mais reprimir essa suposta “pirataria” das “super marcas”...nos ultimos meses variam medidas foram tomadas nesse sentido...a mais visivel em Shanghai foi o fim do “Xian Yang Market”, que concetrava a maior parte desse mercado e movimenta muito dinheiro e muitos estrangeiros. As lojas de rua que vendiam pecas diversas de roupas feitas para as tais “super marcas”, foram fechadas do dia pra noite, ha mais de um mes atras, e agora, aparentemente, tiveram a permissao de retornar as atividades, depois das etiquetas devidamente cortadas...
O que salta aos olhos em relacao ao fim do “Xiang Yang Market” eh a rapidez e a eficiencia com que as decisoes sao executadas...do fim desse mercado popular, que agregava ainda um excelente mercado de comida a ceu aberto, resultou a demolicao de todas as lojas e casas do quarteirao, localizado em uma area nobre de Shanghai. Em menos de dois meses, pouco resta da movimentacao anterior...hoje se ve muros e escombros. A foto mostra o muro que comecou a ser construido um dia depois do fechamento e em pouco tempo ja havia tomado todo o quarteirao...
A tal eficiencia foi ainda mais impressionante quando todos os vendedores do mercado de comida, que ocupava pelo menos mil trabalhadores, elegeram como nova area de trabalho a rua colada ao meu predio (Jiashan Lu)...as calcadas estavam tao tomada de frutas, verduras e todo tido de comida que mal se podia passar de bicicleta! De noite, mesmo de madrugada, permaneciam instalados com suas barracas improvisadas prontas para a venda...
Tambem do dia pra noite, todos desapareceram...no lugar deles, faixas vermelhas com dizeres em caracteres e muitos guardas enfileirados de forma intimidadora...Ja se passaram pelo menos vinte dias e nenhum deles voltou a vender comida na calcada dos arredores...pena, vendiam os produtos dos mais frescos...

7.17.2006

Os Contrastes

Desde os aspectos mais obvios, passando pelos tipicos problemas do mundo capitalista (isso mesmo), ate nos pequenos detalhes, os contrastes, ao menos em Shanghai, sao infindaveis.
A foto, tirada na praca principal da cidade (People’s Square), sintetiza alguns dos mais comuns contrastes e mostra um pouco o que se passa por aqui atualmente: a pedra com caracteres chineses pintados (as pedras sao tradicionalmente valorizadas na China e ganham destaque sobretudo em jardins) contrasta com a modernidade dos predios; o arranha-ceu de formato peculiar contrasta com a construcao antiga (especie de pequena torre com relogio no topo); os pombos, um branco e um preto, um na pedra alta e outro na baixa, remetem ao ying yang e ao tao necessario equilibrio...
Alem disso, o predio em construcao eh a imagem mais recorrente em Shanghai nos dias de hoje, o que faz a cidade estar em constante mutacao...na velocidade dos canteiros de obras que nao tem descanso.
Mas os contrastes dessa cidade vao muito alem...a modernidade impressionante dos incontaveis arranha-ceus e uma incrivel concentracao dos carros mais rapidos e caros do mundo coexistindo com um mar de bicicletas (os modelos sao os mais tradicionais possiveis, porque sao os mais baratos) e de pobres, restaurantes “fast food” ocidentais instalados em predios de arquitetura tradicional chinesa, a comida local adocicada e extremamente apimentada, a enorme influencia da cultura ocidental em contraste com muitos tradicionais costumes chineses ainda em voga, a quantidade de comida e restaurantes em cada esquina contrastando com a tipica magreza dos chineses, o frio cortante do inverno com o calor escaldante do verao, os tracos delicados dos rostos que proferem palavras em tom aparentemente rude, um dos cartoes postais da cidade mais moderna da “main land” ser, de um lado do Rio Huangpu, a orla de predios antigos (no estilo europeu) do Bund e, do outro lado do mesmo rio, a famosa torre de televisao futurista chamada “Pearl Tower” (a foto dela no post sobre Pudong).
Esses sao apenas alguns aspectos muito obvios das contradicoes, permanencias e mudancas que coexistem nessa Shanghai de 2006...

7.05.2006

Verao em Shanghai


Ha alguns dias o verao chegou por essas bandas e o anunciado inferno na Terra esta se realizando! Confesso que jamais pude acreditar nos avisos que tive em relacao ao calor insuportavel o verao aqui representa...nos europeus nao acreditava porque eles nao passaram a vida num pais tropical e nos brasileiros porque talvez pudessem ter esquecido o que eh verao Rio 40 graus. Mas agora que chegou minha vez de dar testemunho, a sensacao eh muito parecida com o calor e a umidade inacreditavel de Belem do Para! Aquele agradavel bafo constante que te faz suar mesmo parado e traz uma chuvinha diaria no final da tarde!
Mas a escolha do tema foi mesmo para falar sobre a relacao do povo local com o Sol e esse calor todo. A primeira impressao obvia eh a incrivel multiplicacao dos guarda-chuvas...ah sim, mas deixe-me esclarecer algo: os guarda-chuvas sao abundantes nao por conta da chuva diaria, mas por conta do Sol diario! Pois eh, assim como acontecia no Brasil e na Europa ha uns cem anos tras, quando as mocas saiam com seus guarda-chuvas de babados para se proteger so Sol, aqui isso eh um habito extremamente comum entre as mocas! Ha as outras versoes, que sao muito originais: uma especie de camisa branca so como mangas para ser amarrada aos bracos (vide foto) e nao deixa-los expostos ao Sol (muito comum nas mocas de bicicleta), luvas brancas, chapeis e viseiras dos mais diversos, alem do predileto estilo “Darth Vader” (vide foto), que consiste em uma mascara feita de plastico muito resistente e preto, que fica presa a cabeca como uma viseira e simplesmente cobre o rosto inteiro! A combinacao de assessorios de combate ao Sol sao um classico! Na foto a combinacao eh a mais peculiar!
Por isso tudo fica mais do que obvio o quanto os chineses locais nao tem nenhuma predilecao pela cultura do bronzeado, mas isso fica ainda mais evidente quando se verifica a quantidade de propagandas de cosmeticos com efeito “branqueador” da pele!
Pelas conversas que tive por aqui, uma das interpretacoes mais correntes para esse fato eh de que a brancura seria um aspecto de diferenciacao social, ja que quem tem pele bronzeada por aqui sao os camponeses, que correspondem a maioria da populacao chinesa e passam o dia expostos aos raios solares sem muita protecao. Ao que parece, o “cultivo da brancura” faz os locais nao serem confundidos com camponeses...
De qualquer forma, uma coisa eh fato...a pele de muitos chineses e chinesas por aqui eh realmente invejavel! Parece mesmo de bebe ou de propaganda de cosmetico, porque eles quase nao tem pelo e ficam com uma pele muito lisinha mesmo...talvez essa seja uma das recompensas do pacto com “Darth Vader”!

6.15.2006

Os amigos que vao embora


No topo da lista das dificuldades de se viver do outro lado do mundo esta, sem duvida, a de privar-se da convivencia com os amigos mais queridos, das pessoas mais proximas...Mas como a vida eh, felizmente, cheia de compensacoes, os novos amigos, vindos de todos os cantos do mundo, amenizam muitissimo a falta do que deixamos pra traz.
A convivencia diaria, as experiencias novas que os estrangeiros aqui compartilham, os almocos e jantares nos tantos restaurantes chineses, as festas incessantes, o estudo do chines, as descobertas, a vida que nao para muitas vezes nem pra descansar, o tempo que voa...e quando a gente se da conta, aqueles que a principio significavam apenas boas companhias...divertidas pra qualquer momento...viraram assiduos companheiros da experiencia Shanghai. Sem duvida meus primeiros grandes amigos estrangeiros...frances, alemao, americano...ate brasileiros estrangeiros em relacao ao mundo que eu vivia!
Eh claro que grandes amigos nao se perdem em despedidas assim tao previsiveis, mas o tempo dos caminhos que se cruzaram tao cotidianamente aqui nessa cidade cosmopolita tem prazo para acabar...e assim eh inevitavel perder um pouco do que ha de mais especial numa amizade...o dia a dia, o compartilhar as coisas mais simples, as bobagens, a comida, a cerveja, a musica, a conversa, o carinho e as tantas outras inominaveis sensacoes. A saudade dos que partiram ontem (estao na foto) ja incomoda, porque embora tenham sido apenas 4 meses, a convivencia foi tao assidua quanto intensa e, sem duvida, inesquecivel!
Mais uma vez, Vinicius de Moraes soube colocar em palavras aquilo que nem a razao alcanca, quando disse que amigos a gente nao faz, a gente reconhece...e agora sei que nao importa a nacionalidade ou a lingua nativa...