China by Lomenso

Narrativas sobre a experiencia cotidiana de uma familia que saiu do Rio de Janeiro para morar em Shanghai e que agora mora em Dalian

3.18.2007

Os nomes

De acordo com a cultura brasileira majoritariamente em voga, seus pais lhe dao um nome quando voce nasce ou quando precisa ser registrado, certo?! E por mais que voce deteste, as chances de que seja oficialmente mudado sao muitissimo remotas. Pode ser, mas independente da sua nacionalidade, se pretende passar mais de um ano na China, tenha a certeza de que voce precisar usar um novo nome (chines, eh claro!), que inclusive constara dos formularios e informacoes oficiais sobre a sua pessoa.
Essa necessidade advem de um fato relativamente simples: os chineses basicamente so leem caracteres, de modo que toda e qualquer palavra estrangeira, incluindo todos os nomes proprios, precisa ser “encaixada” nas opcoes de caracteres existentes para que possam ser lidos e pronunciados. Em geral, esse “encaixe” eh feito atraves de uma suposta aproximacao fonetica, o que nao significa que aos ouvidos ocidentais serao reconheciveis. Foi assim que Einstein virou “Aiyinsitan” (爱因斯坦), assim como Churchill eh pronunciado como “Qiuji’er” (丘吉尔), Harvard “Hafo” (哈佛), California “Jiazhou” (加州), Brazil “Baxi” (巴西) e assim por diante.
Nos inventamos nossos nomes chineses por pura impossiblidade dos chineses pronunicarem nossos “nomes originais”...Rafael, por exemplo, era pronunciado como “walfle”!
Mas a reciproca eh verdadeira e para a maioria dos ocidentais nao eh nem um pouco simples falar, repetir e muito menos se lembrar dos “nomes originais” chineses, japoneses ou coreanos. Imbuidos de um espirito de compreensao ou coisa do genero, ha tambem um senso comum de que chineses, coreanos e japoneses morando fora de seus respectivos paises ou em permanente contato com ocidentais criem nomes alternativos, em geral originarios do ingles (e todos se referem como “english name”), o que tambem da margem a toda sorte de escolhas aparentemente bizarras. “Apple” eh particularmente popular como escolha de nome entre as chinesas...mas tambem nao eh nada dificil de encontrar “nomes” como “Seven”, “Eleven”, “Love”...
O engracado eh perceber que nesse universo tao diverso quanto a forma de lidar com nomes e seus significados, os nomes e sobrenomes chineses em geral sao compostos por caracteres cujo uso pratico eh diario em palavras totalmente objetivas e, por isso, sao cheios de significados que qualquer chines alfabetizado provavelmente entendera o significado. Meu nome chines, por exemplo, feifei (飞飞) designa o verbo voar e eh composto pelo mesmo caracter que, em combinacao com aquele que designa maquina, forma a palavra aviao (feiji – 飞机).
Nossos nomes ocidentais, pelo contrario, nao nos remetem a qualquer significado imediato...remotamente num livro pouco consultado sobre significados de nomes talvez se possa encontrar, mas nao eh algo nao necessariamente relevante na escolha de um nome. Por isso nos filmes ou mesmo desenhos animados chineses, quando os ocidentais resolvem, alem de traduzir (mesmo que apenas nas legendas) os dialogos, traduzir os nomes dos personagens, soa tao estranho que pessoas possam ter nomes como “Leao da montanha” ou “Sorte do primeiro”...
A questao que parece obvia eh que nao eh possivel fazer a simples transposicao de formas de pensar, na escolha ou traducao de nomes, por exemplo (para falar de algo pequeno), quando as culturas envolvidas sao tao diversas. A troca eh fundamental, mas mesmo quando dispostos a trocar, ainda assim os “homens” parecem nao abrir mao de tentar impor suas respectivas formas de pensar...e dai tantos mal entendidos ou situacoes embaracosas, como um ocidental chamar uma simpatica menina coreana de “Tomato” soar como brincadeira de mau gosto.

3.16.2007

De volta via Paris!


Depois das merecidas ferias de quase dois meses em terras tupiniquins (esse papo de que ferias tem que durar no maximo um mes eh pura exploracao...por isso entendi por bem aderir ao estilo da minha amiga chinesa – ressalte-se que ela mora e trabalha no Brasil –, que se auto-presenteia com tres meses de ferias anuais...mas, por favor, sem esquecer que de acordo com o senso comum a inveja eh um sentimento pequeno burgues mesquinho – oh, redundancia!), pegamos um aviao rumo a Shanghai (quase nao ha voos internacionais para Dalian, exceto no que se refere ao Japao e Coreia do Sul...rsrsrsrsrsrs) com conexao em Paris. Por conta do longo tempo de espera pelo voo seguinte, do trecho Paris – Shanghai, resolvemos aproveitar para passear pela ruas de Paris...mesmo com pouco tempo disponivel, foi possivel se perder pelas ruas do Marais, ouvir e aranhar um pouco do belo idioma, andar pelas ruas limpissimas deslumbrada com a arquitetura tao bem conservada, andar de metro e ver tanta gente lendo, ver pessoas vestidas com cores sobrias, se deliciar com as vitrines de comida mais atraentes que existem, ir as nuvens por sentir o sabor do que so as boas brasseries em Paris podem oferecer, reviver a sensacao de que a hora de ter que deixa-la nao coincide com a hora de querer ir embora e, por fim, mais uma vez ter a certeza de que o lugar comum segundo o qual parisiense eh antipatico eh pura intriga da oposicao! Dessa vez, incluisve, muito me surpreendeu a extrema simpatia dos pelo menos cinco franceses com as quais tivemos rapidos dialogos...e isso tudo foi testemunhado pelo nosso acompanhante, o duende do jardim da casa de Amelie Poulain!!!!! Au revoir!