China by Lomenso

Narrativas sobre a experiencia cotidiana de uma familia que saiu do Rio de Janeiro para morar em Shanghai e que agora mora em Dalian

4.20.2007

As minucias

Desculpem, mas exagerei na mudanca relampago...a rua ainda nao ficou pronta, por uma das razoes cuja logica nao consigo vislumbrar, o que infelizmente acontece o tempo todo com o estudo de chines.
Por que sera que os sujeitos responsaveis pela construcao dessa rua tiveram tanta pressa em destruir o que havia anteriormente e colocar asfalto se ja se passaram mais de tres dias e nao aparece ninguem para acabar os ultimos detalhes e colocar a rua em uso?

Como a reciproca eh quase sempre verdadeira, vou falar sobre as mil e uma coisas que os chineses nao entendem quando eu me atrevo a falar chines...
Antes de mais nada, jamais pensei que um ano de estudo diario de uma lingua, no pais originario da mesma, pudesse nao ser suficiente para entender e ser entendido com fluencia. Mas tambem confesso que jamais pude imaginar morar na China e estudar chines.
Outro dia estava num restaurante – cujo sistema eh interessante, pois ha um retangulo de certa profundidade no meio da mesa, onde o garcom coloca carvao ja em brasa, cobre com uma grelha, onde os clientes grelham a comida, que vem toda crua e, em muitos casos, viva (!) – e, depois de ja estar com a mesa repleta de comida para ser grelhada, resolvi pedir shoyo para a garconete, exatamente da mesma forma como sempre pedi em todos os outros restaurantes chineses. Usei a forma que, aparentemente, eh a unica para falar shoyo, cuja pronuncia eh “jiang you” (酱油). Mas como ja era de se esperar, a garconete ficou olhando pra mim com um certo pavor de quem nao faz a minima ideia o que acabei de dizer e desandou a falar, o que nao entendi absolutamente nada. Apenas continuei repetindo shoyo em chines e tentando especificar que se tratava de um molho preto para acompanhar a comida. Resultado: cerca de dez minutos depois, a garconete chega com uma deliciosa porcao de bicho da seda (na fase larva, quando ainda estao no casulo...muito parecida ocm o que se ve na foto). Custei a acreditar que a garconete realmente estava convencida que era a porcao de larvas a que me referi, sobretudo diante de diante de dois fatos obvios ao mais desavisado acefalo: somos nitidamente ocidentais (nao conheco um sequer que entre num restaurante chines e peca uma porcao inteira so de larvas) e a nossa mesa ja estava cheia de comida.
Ontem descobri a unica razao que posa ter induzido a garconete ao erro: a pronuncia desse delicioso prato de larvas eh algo como “jie yong”, o que supostamente seria proximo de “jiang you” (shoyo). Nao tenho a menor pretensao de acreditar que a minha pronuncia em chines seja super clara para os ouvidos chineses, mas ainda acho inevitavel pensar que em muitas situacoes o uso da deducao obvia seria muito util em varias situacoes e, ainda, pouparia a redundancia que tanto me cansa no chines.

4.18.2007

A velocidade das obras

Algo que ja havia mencionado anteriormente, mas que continua me impressionando eh a velocidade com que se destroi e constroi por aqui. Bastam poucos dias para levar abaixo todo um quarteirao cheio de construcoes e alguns outros poucos para transforma-lo em algo totalmente diferente. Tanto aqui quanto em Shanghai, se a alguem passar mais de um dia sem sair de casa, eh muito provavel que ao sair encontre um outro estabelecimento no exato lugar onde ontem funcionava uma lavanderia. A velocidade com que isso acontece eh inacreditavel!
Um exemplo que hoje realmente me chocou foi a velocidade com que a margem de um canal, que avistamos da janela dos fundos do nosso apartamento, virou uma avenida pavimentada, com calcada pronta e canteiro com arvores onde ontem so havia um gramado. Na parte de baixo da foto eh possivel ver uma faixa, na margem do canal, meio avermelhada, onde era a passagem de pedestres, e, ao longo, o gramado.
Hoje de manha, por volta de 7:30, havia intensa movimentacao de pessoas, carros e caminhoes...dois deles, inclusive, vieram lotados de trabalhadores chineses que, em menos de 8 (oito) horas, transformaram metade do gramado e da passagem de pedestres em uma avenida com cerca de 300 metros de extensao. No final da tarde chegaram os caminhoes com pixe e asfalto, enquanto os demais trabalhadores cuidavam de outros detalhes de acabamento da calcada e plantavam arvores no canteiro.
Amanha na hora do almoco provavelmente estara tudo pronto...faco questao de tirar uma foto e colocar aqui amanha para mostrar a mudanca relampago.

4.12.2007

Lushun - a cidade proibida de Dalian

Localizada a mais ou menos 30 quilometros da cidade de Dalian, Lushun eh considerada uma cidade proibida em funcao de seu porto, situado numa baia estrategica, que abarca um enorme aparato militar chines. Eh supostamente o lugar ideal para manter defesa naval forte o suficiente para conter eventual invasao armada atraves do Golfo de Bohai. Alem disso, se nao eh o mais, eh um dos portos mais proximos de Beijing. Ate um passado recente, foi um local de intenso conflito entre Russia, Japao, Coreias e China.
Uma outra razao para a intensa militarizacao da area eh o fato de Lushun localizar-se em uma area cujo porto nao congela, sendo que todos os demais portos cima congelam no inverno. De qualquer modo, os territorios da Russia e da Coreia do Norte ocupam a linha costeira da Provincia de Jilin, o que impede a China de utilizar qualquer outro porto ao norte de Lushun.
O que se verifica eh que a localizacao privilegiada de Lushun ja atraiu a atencao de todos os paises ao redor, sobretudo como um ponto de partida para penetrar no territorio continental chines. As guerras mais antigas no local remetem as guerras entre China e Coreia, mas na historia moderna figurou como o principal objetivo na invasao japonesa da China continental, na epoca do primario porto naval da Dinastia Qing (1894), envolvendo o massacre de milhares de chineses e ainda hoje alimenta uma certa rivalidade entre essas nacoes.
Os russos tambem tiveram seu espaco na regiao, atraves de concessoes chinesas, de modo que fizeram no local a ultima parada da linha de trem da Manchuria, que cobre todo o percurso atraves da Siberia ate Moscou.
Depois disso, os japoneses conquistaram novamente o controle de Lushun e de Dalian, mantendo sua ocupacao por mais de quarenta anos e usando o local como base para outras invasoes ao territorio chines.
Apenas apos a Revolucao voltou a ser territorio dominado pelo governo chines, mas ainda assim guarda como presente um monumento doado pela antiga Uniao Sovietica (vide foto), como aparente simbolo de celebracao do regime comunista.
Provavelmente muito mais do que a mais famosa cidade proibida da China (localizada em Beijing e hoje local de intensa visitacao turistica), Lushun ainda mantem-se fiel a classificacao de cidade proibida, de tal modo que estrangeiros de qualquer origem nao sao bem-vindos.
De um terminal rodoviario de Dalian, pegamos (ao todo tres estrangeiros) um onibus para Lushun. No caminho, ja era possivel ver enormes condominios tipicamente militares...repletos de casas identicas. Nao tinhamos muita nocao de onde parar, de modo que o motorista nos deixou no meio do que parecia ser o centro comercial da cidade. Comecamos a andar em direcao ao mar, havia algumas placas indicando atracoes supostamente turisticas. O primeiro local que nos pareceu interessante era na beira do mar, um porto, onde estavam estacionados varios navios de guerra com bandeira chinesa. Havia uma bilheteria, onde entreguei o dinheiro e pedi tres entradas. Um homem dentro da bilheteria disse que nao poderiamos entrar, pelo fato de sermos estrangeiros. Continuamos a nossa andanca e resolvemos ir a um outro local, onde havia teleferico e vista panoramica da cidade, em cima de um morro voltado para o mar. Chegando la, a mesma noticia: proibida a entrada de estrangeiros. Os chineses que trabalhavam la disseram que memso que nos permitissem ir ate o topo, chegando la encontrariamos militares cuja unica funcao eh manter estrangeiros longe e, eventualmente, prende-los.
Pegamos um taxi disposto a nos ajudar a descobrir que lugares nao tem acesso vedado a gringos...seguimos a dica das placas locais ate o que seria um museu de cobras. Chegamos la e dessa vez o que encontramos foi um lugar enorme totalmente fechado e sem ninguem por perto...vimos uma placa onde dizia que so abriria novamente no verao...
A conclusao eh que constatamos a existencia de uma area intensamente militarizada ao longo de toda a costa, que ainda figura como uma importante area de protecao chinesa, o que justifica a proibicao de estrangeiros. Ao menos voltamos pra casa de taxi e fizemos a alegria do motorista...