China by Lomenso

Narrativas sobre a experiencia cotidiana de uma familia que saiu do Rio de Janeiro para morar em Shanghai e que agora mora em Dalian

1.18.2006

Shaolin Kungfu

Com um certo atraso, resolvi escrever sobre o “show” de Kungfu que assistimos no Shanghai Lyceum Theare, cujo panfleto diz “performced by the members os Shaolin Kungfu Group of Shaolin Temple on Song Moutain in”. Assim que entramos no teatro, a primeira visao foi do palco com uma cortina enorme (fechada) onde estava escrito “Shaolin Soul”. Todos em seus assentos, tivemos a certeza de que nenhum “shangaiense” se presta a pagar 150 yuan (equivalente a aproximadamente R$ 45,00) para ver a tal apresentacao de kungfu. Em compensacao, a plateia tinha uma rica variedade de nacionalidades...os aparentemente unicos brasileiros (alem de nos) sentaram, por coincidencia, nos bancos extamente atras de nos e pudemos ouvir o som do portugues, partindo de estranhos e num lugar publico!
O show eh acompanhado de uma narracao – em chines, mas ha uma tela onde passa a traducao pro ingles – que conta, resumidamente, as origens do kungfu e seus principios basicos. Foi a partir dai que fiquei sabendo que o kungfu foi criado por monges budistas do templo do Shaolin, mas so se transformou em luta a partir do momento em que os monges usaram suas habilidades para combater os rebeldes da Dinastia Quin. Quando os monges conseguiram libertar o Rei Quin, transformaram-se em seus protetores.
A primeira parte da apresentacao mostra os membros desse grupo (Shaolin Kungfu Group – vide foto no fotolog) praticando os golpes e posicoes de luta, mas tambem de meditacao (fala-se muito na importancia do equilibrio da alma e do corpo, enfatizando a meditacao como o inicio de tudo). A sensacao eh a mesma de assistir a um filme chines no qual aparecem lutadores de kungfu...a sonoplastia eh identica e, me perdoem a falta de “espirito antropologico”, hilaria, porque a cada voo (isso eh impressionante...eles pulam muito alto e ficam um tempo no ar) ou golpe eles fazem caras, bocas e emitem gritos (tipo: “Ia!”; “Hua!”; “Oia!”).
As tecnicas e posicoes sao impressionantes e discrepam totalmente das indicacoes basicas de tudo que ja fiz no Brasil em termos esportivos. Por exemplo, no Brasil, todas as vezes que vi alguem fazendo ou recebi instrucoes para tentar dar um salto mortal no solo, nunca passou pela minha cabeca dar o mortal e cair direto com as costas paralelas ao chao e sofrer na coluna todo o impacto da queda...mas no Kungfu pelo visto essa instrucao eh basica! Ninguem da mortal e para parar em pe, mesmo se for uma sucessao de saltos mortais! A ideia eh mesmo cair de costas no chao e (isso tambem eh incrivel) ficar totalmente em pe, a partir da posicao totalmente deitado no chao, com apenas um movimento das pernas! A unica parte desabonadora do show eh que eles usam “armas” cujas partes cortantes sao substituidas por um papel laminado grosso...apesar da agilidade dos movimentos ser evidente, ver as espadas se batendo e produzindo faiscas teria outro impacto para quem assiste!
O segundo ato do show eh o mais interessante, porque mostra os monges fazendo coisas surreais. O primeiro numero foi o de um monge que com uma agulha e muita concentracao (segundo a explicacao eles concentram toda a energia do corpo no diafragma – com respiracao e meditacao especificas, que precedem, no proprio palco, cada numero – para dai transferir essa energia para as partes do corpo que serao usadas para os “super feitos”), furou, de forma precisa, uma placa de vidro e estourou a bola que ficava atras sem rachar o vidro (apenas fazendo o furo necessario). O segundo era de um menininho (tem criancas aprendizes que participam) que com uma tigela de ceramica redonda (normal) grudava-a na barriga, de tal modo que um monge o levantava totalmente do chao somente segurando na tigela! Depois teve um numero no qual cinco monges, cada um com uma lanca pontuda (essa era de verdade) levantavam, paralelamente ao chao, um sexto monge na ponta das cinco agulhas (uma em cada ombro, outra na barriga e outras duas nas pernas). O outro entortou o cabo de madeira de uma lanca colocando a ponta de espeto no gogo da garganta e forcando a lanca contra o chao! O ultimo quebrou uma barra de aco na cabeca! Todos sairam, aparentemente, ilesos...
No fim, o narrador sugere que o Kungfu seja disseminado por todo o mundo!

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