Trem do povo
Uma das principais recomendacoes que uma grande amiga chinesa – residente no Brasil – me deu ao saber que eu viria pra China foi: jamais viaje na classe economica, porque a experiencia nao eh nada recomendavel! Diante de tais recomendacoes, vindas de uma amiga aventureira que ja viajou meio mundo de mochila, realmente nao havia cogitado pagar pra ver. No entanto, depois de passar um dia inteiro caminhando e conhecendo Suzhou, que fica a uns 40 minutos de Shanghai, num frio de zero graus e um pouco de chuva, chegamos no final da tarde loucos para pegar um confortavel trem (como o da ida para Suzhou) e descansar no conforto do nosso lar! Nao contavamos, entretanto, com a noticia que recebemos da moca do guiche de passagens: so havia vagas no trem que sairia cinco horas depois e mesmo assim so havia lugares em pe! Como nao tinhamos alternativa, compramos as unicas passagens disponiveis (pela fortuna equivalente a R$ 2,00) e esperamos o horario do nosso trem nas cadeiras de uma das “salas de embarque” da estacao de trem de Suzhou. Enquanto isso, e considerando que eramos os unicos gringos de toda a estacao, serviamos entretenimento para os locais, cujos olhares incasaveis nem por um segundo desviavam-se em direcao a outra coisa que nao os extra-terrestres que resolveram pousar na estacao naquele dia. A sensacao de ser o alvo de tantos olhares em um lugar publico lotado ora era de curiosa diversao, ora de franco incomodo.
Passadas as tais cinco horas nessas circunstancias, alinhamo-nos a aparente fila que havia em frente ao portao de embarque do nosso esperado trem com destino a Shanghai. Passados ceca de quinze minutos na fila que nao andava, percebemos que o horario do trem tinha sido modificado no visor, sendo alterado para cerca de vinte minutos mais tarde. Passado esse tempo e depois de ver todos os outros trens partirem no horario programado, um sentimento de impaciencia comecou a surgir no intimo dos estrangeiros extra-terrestres, ao passo que nenhum dos locais na mesma fila pareciam estar incomodados com o atraso injustificado. Atrasos a parte, quando o portao abriu, o que era aparentemente uma fila virou apenas um aglomerado de chineses andando numa mesma direcao, sendo eventualmente surpreendidos por outros que passavam por cima das cadeiras para encurtar o caminho ate o portao de embarque, desconsiderando o fato de que os outros tantos que se aglomeravam na porta do embarque estavam ali ha horas numa fila...o estranho eh que mesmo os que estavam na fila ha tanto tempo pareciam nao se incomodar com o fato de que outros, recem-chegados, passassem-lhes a frente. Tambem o atraso do trem parecia pouco incomoda-los.
Depois da transicao, chegamos enfim a plataforma para esperar o trem. O aspecto externo do trem ja denunciava que a “melhor” parte estava por vir! Assim que o trem parou na plataforma, varias pessoas desembarcaram pela janela com suas respectivas bagagens, enquanto outras se espremiam na porta para tentar sair, ao mesmo tempo que aqueles que queriam entrar se aglomeravam na porta na plataforma, em frente a porta de entrada.
Quando a entrada foi liberada, ninguem sequer pedia o bilhete do trem...os lugares ja estavam todos tomados, mas ainda havia algum espaco em pe! Todos a bordo...o trem nao saia do lugar, mesmo passados uns vinte minutos do embarque e quase uma hora de atraso do horario marcado...ninguem parecia estranhar ou incomodar-se...
Trem em movimento, as pessoas nao paravam de circular nos corredores, eventualmente empurrando com vontade umas as outras, parecendo desconsiderar o consenso, tranformado em lei da fisica, de que dois corpos nao ocupam o mesmo lugar no espaco. Na China, se nao ocupam, no minimo, tentam ocupar!
O trem era nitidamente velho e a velocidade que atingia era inferior a do outro “trem padrao europeu” (ou “trem classe A”)...nao seria muito problema se, alem do atraso e do desconforto, nao fizessem o trem destinado aos pobres parar totalmente no meio do nada, quando o relogio ja marcava 22 horas, apenas para que, pasmem, o “trem classe A”, que vinha atras do nosso, pudesse passar o “trem dos pobres” e chegar na hora marcada a Shanghai!
Pouco depois desse parte inacreditavel da viagem, a que todos pareciam estar muito acostumados, comecaram a varrer o chao do trem, com uma caixa de papelao e uma vassoura...a visao do chao, que estava sendo evitada por nos, era a de todo o lixo que eh possivel produzir numa viagem de trem. Cascas de todas as frutas possiveis, restos de comida, embalagens, garrafas, papel, tudo eh jogado no chao, junto com o produto dos escarros constantes...
De fato, essa experiencia foi a de conhecer o outro lado de uma vitrine, cuja “porta dos fundos” deixa evidente uma desigualdade social gritante.
Passadas as tais cinco horas nessas circunstancias, alinhamo-nos a aparente fila que havia em frente ao portao de embarque do nosso esperado trem com destino a Shanghai. Passados ceca de quinze minutos na fila que nao andava, percebemos que o horario do trem tinha sido modificado no visor, sendo alterado para cerca de vinte minutos mais tarde. Passado esse tempo e depois de ver todos os outros trens partirem no horario programado, um sentimento de impaciencia comecou a surgir no intimo dos estrangeiros extra-terrestres, ao passo que nenhum dos locais na mesma fila pareciam estar incomodados com o atraso injustificado. Atrasos a parte, quando o portao abriu, o que era aparentemente uma fila virou apenas um aglomerado de chineses andando numa mesma direcao, sendo eventualmente surpreendidos por outros que passavam por cima das cadeiras para encurtar o caminho ate o portao de embarque, desconsiderando o fato de que os outros tantos que se aglomeravam na porta do embarque estavam ali ha horas numa fila...o estranho eh que mesmo os que estavam na fila ha tanto tempo pareciam nao se incomodar com o fato de que outros, recem-chegados, passassem-lhes a frente. Tambem o atraso do trem parecia pouco incomoda-los.
Depois da transicao, chegamos enfim a plataforma para esperar o trem. O aspecto externo do trem ja denunciava que a “melhor” parte estava por vir! Assim que o trem parou na plataforma, varias pessoas desembarcaram pela janela com suas respectivas bagagens, enquanto outras se espremiam na porta para tentar sair, ao mesmo tempo que aqueles que queriam entrar se aglomeravam na porta na plataforma, em frente a porta de entrada.
Quando a entrada foi liberada, ninguem sequer pedia o bilhete do trem...os lugares ja estavam todos tomados, mas ainda havia algum espaco em pe! Todos a bordo...o trem nao saia do lugar, mesmo passados uns vinte minutos do embarque e quase uma hora de atraso do horario marcado...ninguem parecia estranhar ou incomodar-se...
Trem em movimento, as pessoas nao paravam de circular nos corredores, eventualmente empurrando com vontade umas as outras, parecendo desconsiderar o consenso, tranformado em lei da fisica, de que dois corpos nao ocupam o mesmo lugar no espaco. Na China, se nao ocupam, no minimo, tentam ocupar!
O trem era nitidamente velho e a velocidade que atingia era inferior a do outro “trem padrao europeu” (ou “trem classe A”)...nao seria muito problema se, alem do atraso e do desconforto, nao fizessem o trem destinado aos pobres parar totalmente no meio do nada, quando o relogio ja marcava 22 horas, apenas para que, pasmem, o “trem classe A”, que vinha atras do nosso, pudesse passar o “trem dos pobres” e chegar na hora marcada a Shanghai!
Pouco depois desse parte inacreditavel da viagem, a que todos pareciam estar muito acostumados, comecaram a varrer o chao do trem, com uma caixa de papelao e uma vassoura...a visao do chao, que estava sendo evitada por nos, era a de todo o lixo que eh possivel produzir numa viagem de trem. Cascas de todas as frutas possiveis, restos de comida, embalagens, garrafas, papel, tudo eh jogado no chao, junto com o produto dos escarros constantes...
De fato, essa experiencia foi a de conhecer o outro lado de uma vitrine, cuja “porta dos fundos” deixa evidente uma desigualdade social gritante.
1 Comments:
Oi, Fernanda!
Descobri sem querer teu blog.
Foi uma boa descoberta! Muito interessante a forma de vc descrever esse lugar tao distante e com cultura tao diferente da nossa.
Continuarei te acompanhando!
Um abraço e parabéns
H
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